FIBRA
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A Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra) sediou na noite dessa quinta-feira, 9 de março, uma palestra sobre ESG nas indústrias. A sigla diz respeito à sustentabilidade empresarial — do inglês environmental, social e governance — e surgiu em 2004, em uma publicação do Pacto Global da Organização das Nações Unidas em parceria com o Banco Mundial.
Intitulada Sustentabilidade: Uma Agenda Estratégica e Inadiável, a apresentação foi conduzida pela jornalista e radialista Sonia Consiglio, que atua na área há mais de 20 anos. O encontro reuniu industriais e representantes de startups e de entidades, além de integrantes do corpo técnico da Fibra, do Serviço Social da Indústria do DF (Sesi-DF) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do DF (Senai-DF).
Em cerca de 40 minutos, Sonia apresentou ao público estudos, tendências e movimentos de mercado relacionados à agenda ambiental, social e de governança das organizações. “No Relatório de Riscos Globais, são entrevistados especialistas do mundo todo para identificar quais os principais riscos para os negócios a curto e longo prazos. No recorte de dez anos, dos cinco primeiros riscos, quatro são de ordem ambiental e um, social”, explicou Sonia, ao citar a publicação anual do Fórum Econômico Mundial.
A palestrante defendeu que a agenda ESG precisa estar inserida nas práticas de uma empresa. “Não se trata de uma onda, mas de um novo modelo de mundo que requer um novo modelo de pensamento, de comportamento, de consumo e de operar negócios, por isso não depende de setor ou tamanho de empresa”, justificou (leia mais na entrevista no fim da matéria).
A palestra teve o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no DF. “Ao trazer para o meio empresarial temas e debates relacionados à sustentabilidade ambiental, à responsabilidade social e à governança coorporativa, a Fibra cumpre seu papel de incentivar as boas práticas que assegurem a adequação de nossas empresas a um mercado cada vez mais exigente não só em relação à qualidade dos produtos, mas também à forma como esses manufaturados são produzidos”, disse o gerente de Atendimento Personalizado do Sebrae no DF, Ricardo Robson Gomes.
Para o presidente da Fibra, Jamal Jorge Bittar, não se pode dissociar o ambiente de negócios das preocupações sociais, ambientais e de governança. “Hoje, o mercado já está começando a selecionar a partir disso. Independentemente de resultados econômicos, é uma prática que tem que passar a ser um padrão no comportamento das pessoas, representadas também pelos seus negócios. É preciso entregar com responsabilidade social”, defende.
Logo após a palestra, o público acompanhou a apresentação de duas startups brasilienses que desenvolvem soluções na área de sustentabilidade: ATMOS, voltada para a redução do desperdício de energia, e 4 Hábitos, que busca transformar o lixo de empresas em ativos de impacto socioambiental.
Bate-papo com Sonia Consiglio, jornalista e radialista que atua nas áreas de sustentabilidade, comunicação e investimento social há mais de 20 anos. Autora do livro #vivipraver – A História e as Minhas Histórias da Sustentabilidade ao ESG
Por que a agenda ESG é uma agenda inadiável?
É inadiável porque a gente chegou ao entendimento de que ou a gente muda um modelo de mundo ainda baseado em questões econômico-financeiras para um que traz questões sociais e ambientais ou esse modelo, que tem vida curta, vai se esgotar. Então ela é inadiável porque chegou o momento em que a gente não pode mais postergar essa decisão e precisa tomá-la já. E tem de ser do ponto de vista estratégico. A gente tem que trazer essas questões sociais, ambientais e de governança para o nível estratégico das empresas, das organizações, para que elas sejam perenes e aconteçam de fato nessa linha de transformação.
Quais são as vantagens de estar alinhado à agenda ESG e as desvantagens de não estar?
A vantagem é a sobrevivência, a perenidade — é você continuar sendo viável em um mundo que vai exigir isso de todas as organizações. Então, no fim, a gente está falando, de novo, de uma agenda inadiável porque ela é a própria viabilidade e a continuidade da instituição. Questões sociais e ambientais podem viabilizar ou inviabilizar uma questão econômica. Essa é a vantagem. A desvantagem vai na mesma linha. Hoje a gente vê perda de clientes, perda de talentos. Os funcionários querem trabalhar em empresas com todas essas qualidades e investidores estão procurando empresas que tenham uma boa agenda ESG. As vantagens vêm de todos os stakeholders e de novas oportunidades, inclusive de negócios.
A indústria do DF é majoritariamente formada por micro e pequenas empresas. Como as indústrias de pequeno porte podem implementar a agenda ESG?
Primeiro, entendendo o que é essa agenda, entendendo a importância dela para o negócio. A hora em que um pequeno empresário compreende que essas questões sociais e ambientais trazem valor para o seu negócio, começa a fazer uma reflexão da sua atividade. Implementar essa agenda em uma empresa que produz parafusos é diferente de implementá-la em uma de assistência médica. Então é refletir como essas questões fazem sentido para o seu negócio e começar pequeno. Coloque alguns critérios na hora de selecionar um pequeno fornecedor, um parceiro de negócios, entenda se ele está alinhado com essa agenda, implemente questões de melhor consumo de energia e de recursos naturais. Enfim, comece pequeno — esse é um processo de aprendizado.
Como contagiar toda a organização? Como envolver todas as camadas de empregados na implementação da agenda?
É preciso ter uma série de iniciativas, mas todas baseadas em conhecimento. Então tem que ter treinamento, processo de comunicação constante sobre o que está sendo feito, workshops motivacionais e vivências. É necessário desenvolver uma estratégia, montar grupos de trabalho, montar espaços onde os funcionários possam dar opinião sobre essa agenda. Enfim, depende muito da cultura de cada empresa, mas o mais importante é: comece trazendo conhecimento, sensibilização e engajamento. Na hora em que as pessoas entendem por que essa agenda é importante, vai fácil.